terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O QUE NÃO DIZER

Poucas pessoas tem coragem de manifestar, hoje em dia, sua preferência por esse ou aquele partido político, por essa ou aquela escola, movimento ou ideia. Há um patrulhamento inquisitorial, atirando á fogueira os mais destemidos que se arvoram a opinar a favor ou contra o que pensam outros. E todos falam de liberdade de expressão. Mas, se alguém expressa o que outro não quer, vem ofensa e linchamento. Há os senhores absolutos da verdade. Na defensiva, e para evitar riscos, todo mundo diz, mas pouco se diz. Ou o dizer não tem base ou consistência. O efeito disso? Não se sabe, ao certo, a quantas andam os porões do sentimento coletivo. E podem surgir surpresas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ONDE FOI QUE EU ERREI?


De tempo em tempos circulam na rede, mensagens e vídeos mostrando crianças inteligentes e expressivas reclamando mais presença dos pais em suas vidas. São alvo de perguntas diretivas, induzindo respostas que levam os pequeninos às lágrimas, tendo que escolher entre um presente de Papai Noel e a presença dos pais por mais tempo, em casa.
É verdade que pais ausentes fazem falta; e ninguém duvida de que criança requer figuras de proteção por perto. É certo que essas mídias bem produzidas e editadas contém algo de educativo e sugerem alertas. Entretanto, para pais e mães já encharcados de culpa, elas são um soco no estômago. E trazem nas entrelinhas bem traçadas um componente subliminar de crueldade, para arrancar lágrimas dos malvados vilões. Quem produz essas peças, certamente pouco sabe sobre a dor de muitas mães que choram, altas horas, diante de caminhas e berços dorminhocos, amargando a dor de terem passado o dia longe de casa, lutando pelo pão de todo dia. Essas mensagens bonitas, coloridas de boas intenções, enfiam o dedo na ferida de gente comun, pais bons, atrapalhados, às vezes, mas amorosos, sim. Pais e mães que correm, voam às vezes, pressionados pelo dever profissional e que se dividem, ansiosos e ruminando gastrites, entre a reunião de trabalho e a festinha na escola; entre as exigências e metas do empregador e o desejo de ajudar no dever de casa.
É verdade que às vezes alguns passam da conta e vão além do razoável, na competitividade de uma época de cifrões e títulos acadêmicos. Mas a maioria busca apenas a sobrevivência digna. E são esses que perdem o sono por não serem pais bons.
Quem são esses pais que geraram filhos emaranhados em fios, redes, iclouds e downloads? São gente que luta, acerta e se confunde. Não são maus, nem maltratam crianças. São apenas diferentes dos pais antigos. Elas já não vivem entre panelas e bordados. Mas, como suas mães e avós, são corajosas mulheres, que bordam o tecido da sobrevivência a peso de luta, fazendo alquimias com o tempo escasso para adoçar a vida de seus filhos que muitas vezes criam sozinhas. Eles, os pais, estão longe de ser apenas os provedores, cujo maior dever era encher a despensa. São homens que trocam fraldas e empurram carrinhos pelas praças e shoppings da vida , sem vergonha de ser “femininos”. Os tempos mudam, as sociedades e os homens mudam. O que não muda é a necessidade de amor e de calor. Haveremos de encontrar caminhos atuais para necessidades que são de todas as épocas e de todas as humanidades.
Abençoados sejam os pais e mães da nossa época, cheios de perguntas, com poucas certezas e muito aperto no peito. Querem amar e amor. Hoje, como antes, são pais e mães possíveis. Os melhores que podem ser!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A CRIANÇA INTERNA, EM NÓS 12/10/2015


Hoje, poderia escrever um belo texto sobre meus filhos e netos, ou criar um poema para todas as crianças. Preferi falar da cura da nossa criança interna.
Todos nós, em determinados momentos da vida, agimos e reagimos a partir de uma consciência infantil. Tanto na expressão de feridas antigas, quanto na espontaneidade, alegria e inconsequência da criança alegre e feliz.
Não que sejamos infantis no sentido comum do termo. Mas há, em todas as pessoas, sem exceção, aspectos da consciência que ficaram congelados em memórias da infância. Uma determinada experiência vivida nos primeiros anos, na relação com os adultos significativos, gerou um choque e a energia vital entrou em colapso, naquele momento. E esse "retrato" antigo continuará decorando a sala da vida, comandando ações e sentimentos do adulto, de forma inconsciente. São as imagens. Marcam como ferro em brasa. Delas brotam as crenças e as generalizações, que perduram e são poderosas em seus efeitos. Não significa que o pai ou a mãe foram monstros maldosos; o que vale é a forma como a criança vivenciou e registrou a experiência. E se na vida adulta esses registros subjetivos não forem reconhecidos e trabalhados, podem fazer estragos. Todos nós agimos e reagimos a partir de vozes e sentimentos da infância mais remota. Às vezes até de antes do nascimento. Muitas de nossas reações têm essa origem. É comum reagirmos no presente, a situações do passado. Há uma criança dentro de nós, falando e reagindo o tempo todo, trazendo todo tipo de “má-criação”. Às vezes você tem conflitos nas relações atuais e, na verdade, está confrontando seu pai ou sua mãe, atualizando a revolta não expressa pela criança que você foi, e que continua viva. Os sentimentos infantis represados emergem vigorosos e sem controle, no momento inoportuno e com a pessoa errada.
A boa notícia é: o que a alma deseja, reeditando as velhas histórias, é encontrar a cura para as velhas feridas. Mesmo que faça isso de forma atrapalhada e tosca.
Na contrapartida, poderemos hoje, como adultos, dialogar com nossa criança interna, reconhecendo suas razões, dando acolhida ás suas queixas, mas também contando a elas historinhas mais reais sobre o que aconteceu de verdade.
Um 12 de outubro de encontro com sua criança!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

OUVIR É FÁCIL. DIFÍCIL É ESCUTAR...


Muito ruim, quando num momento difícil, a pessoa se abre numa confidência, ou num desabafo e o outro, ao invés de escutar e oferecer o ombro quente, vem logo dando uma solução do tipo: "deixa pra lá!" "não liga pra isto!" "mas também! Tú fez por onde!"
Melhor é o silêncio compreensivo e atento, ou simplesmente ouvir algo como: "é... sei como é difícil..."
Julgamento e crítica é tudo o que não cabe nessa hora!

AS ORDENS INCONSCIENTES DO AMOR


A família é um sistema forte, onde os laços são muito poderosos. Mesmo aquelas que se desestruturam, mantém uma solidariedade inconsciente entre seus membros, uma espécie de "ordem do amor", que não depende dos conflitos e desordens aparentes. É assim que muitas vezes reeditamos histórias, doenças e padrões doentios que pertencem aos nossos familiares, mesmo aqueles que detestamos ou nem conhecemos. Trata-se de uma tentativa dessa ordem inconsciente, de reequilibrar o sistema. E geralmente as pessoas mais sensíveis da família adoecem e desorganizam sua vida, nessa tentativa atrapalhada de salvação. Necessário trazer à luz esses emaranhamentos, deixando com cada antepassado com o que é seu e no seu lugar de dignidade.
Para quem não sabe, esse é um dos focos das Constelações Familiares.

A CRIANÇA EM NÓS



Todos nós, em determinados momentos de nossas vidas, agimos e reagimos a partir de uma consciência infantil. Não que sejamos infantis no sentido comum do termo. Mas há, em todas as pessoas, sem exceção, aspectos da consciência que ficaram congelados em memórias da infância. Uma determinada experiência da criança, na relação com os adultos significativos, gerou um choque e a energia vital entrou em colapso, naquele momento. É como uma foto. Não! Não é como uma foto! É como um “retrato”, daqueles antigos, que ficavam na parede a vida toda. Pois bem: esse retrato continuará “enfeitando” a sala da vida, comandando as ações e sentimentos do adulto, de forma inconsciente. São as imagens. Marcam como ferro em brasa. Delas brotam as crenças que perduram e são poderosas em seus efeitos. Se não forem reconhecidas e trabalhadas podem fazer estragos. Por exemplo, uma menina que viu sua mãe submetida à violência do pai, pode generalizar essa experiência de diversas maneiras: 1) todos os homens são violentos; 2) todas as mulheres bondosas (como minha mãe) sofrem violência; 3) se eu me relacionar com os homens, sofrerei violência; portanto, melhor fugir deles; 4) melhor maltratá-los, antes que me maltratem; 5) vingarei minha mãe, maltratando os homens; 5) nunca serei igual à minha mãe! Comigo vai ser diferente! 6) vou atrair para minha vida homens violentos; assim eu confirmo que todos eles são mesmo maus. E por aí a fora. São apenas exemplos.
Com os homens não é diferente; as experiências infantis negativas com as mulheres de sua vida, contaminam a relação com o feminino na vida adulta. Estas são apenas algumas situações mais comuns.
Todos nós agimos e reagimos a partir de vozes e sentimentos da infância mais remota. Às vezes até de antes do nascimento. Muitas de nossas reações têm essa origem. É comum reagirmos no presente situações do passado. Às vezes você briga com seu companheiro ou companheira e, na verdade, está confrontando seu pai ou sua mãe, atualizando a revolta não expressa pela criança que você foi e que continua viva. Os sentimentos infantis represados emergem vigorosos e sem controle no momento inoportuno e com a pessoa errada.
A boa notícia é: o que a alma deseja, reeditando as velhas histórias é encontrar a cura para as velhas feridas. Mesmo que faça isto de forma atrapalhada e tosca.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Pensamentos... sentimentos

Nos processos da vida, há aqueles que esperam ser arrastadas pela maré, passando pelas águas lamacentas e pelas violentas tempestades do sofrimento, sem controle sobre a correnteza, para chegarem às águas limpas da lucidez. Mas há os que tomam o destino nas mãos e começam a mudar antes de serem arrastadas pelo turbilhão. Entre uns e outros há uma grande diferença.

Muro

Às vezes fugimos tanto de encarar nossos verdadeiros sentimentos, que eles só aparecem na forma de doenças e sintomas.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

SENTIMENTO É PRA SENTIR!

Os sentimentos negados são a causa de muitas doenças físicas e emocionais. Quando não são reconhecidos, eles incapacitam, inibindo a criatividade e obstruindo os impulsos construtivos. De tanto negá-los passamos a acreditar, com o passar do tempo, que a situação que os gerou foi superada e tocamos a vida. A má notícia é que, se eles não forem aceitos, se forem desconsiderados e reprimidos, não encontram o caminho da solução. Não se transforma o que não se quer ver.
Mesmo guardados sob pressão, por serem “feios” e “vergonhosos”, eles mantém sua força e o poder destrutivo. Esconder de nós mesmos os sentimentos ditos negativos, não significa resolvê-los. Melhor olhar de frente e admitir que existem e que estão em nós. A proibição de sentir os potencializa. Se ficam escondidos nos subterrâneos de nossa história, de lá eles pressionam para cima, nos comandando a vontade e contaminando nossa vida.
Quando surgem as depressões, insônias, alergias, ansiedades, furúnculos, doenças sem diagnóstico, queda de cabelo, baixa resistência imunológica, fibromialgias, inibições sexuais, ficamos a perguntar: COMO ISTO FOI ACONTECER?
Admitir a raiva, o medo, a tristeza, a vulnerabilidade são caminhos de saúde e bem estar. Não que devamos atirá-los sobre os outros. A questão é entre nós e nós mesmos. Admitir para curar. Identificar para buscar as raízes. Quando conseguimos abraçar nossas fragilidades humanas tornamo-nos aptos a buscar os caminhos da cura. Ter vergonha de quem nós somos retarda o crescimento e nos mantém na fragmentação e na máscara que nos faz adoecer.
(se quer ver mais sobre este tema, leia o artigo “Quando não dizer faz adoecer”
www.ray-vale.blogspot.com

sábado, 18 de julho de 2015

CONSCIÊNCIA NO CORPO

Uma boa forma de começar o dia é alongar-se ainda na cama, abençoar o dia que chega e fazer um propósito de expressar na vida, naquele dia, o melhor que você é! Continuar alongando fora da cama,ótimo!
Se tem o hábito de fazer caminhadas, ao invés de ouvir música enquanto caminha, vá de ouvidos limpos. Medite enquanto caminha. Escolha a cada jornada um dos seus sistemas para focar. Um dia você trabalha o aparelho digestivo; no outro, o circulatório, e assim por diante: linfático, respiratório, reprodutor, endócrino, rede nervosa, sistema nervoso central, etc. Ou toque com a consciência em órgãos específicos: coração, fígado, intestino grosso, pâncreas, rins, etc, dependendo da sua necessidade daquele momento. Seu dia será mais saudável. A intenção move a energia vital. Viver é bom. Viver consciente da vida que pulsa no corpo, é melhor ainda!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O QUE É CONCENTRAR-SE?

Meditar pode ser muito simples... (II)
" Concentrar-se" é algo muito buscado pelas pessoas que desejam fazer meditação. Normalmente não uso esse termo. Prefiro sugerir que você traga sua consciência para algo do seu mundo interno, ou uma parte do seu corpo físico. "Concentrar" presume esforço e tensão, porque em geral o Ego fica no comando. Já a consciência é fluida e natural; podemos flutuar com ela organicamente, amorosamente, sem pressão. Você pode, por exemplo " ver" com a sua consciência a sua respiração, e ficar aí - inspirando e expirando; pode " tocar" com a consciência, qualquer parte do seu corpo e permanecer presente nesta parte, durante o processo de respirar; pode considerar, no seu fluxo, que respira Deus em cada célula do corpo; ou, com esse olhar interno, "saber" sua energia vital, fluindo pelos chacras. Nem precisa sentir, entregue-se, apenas.
Já perceberam que a respiração é tudo no processo de meditar. Se você nada mais fizer, e apenas respirar conscientemente, já estará movendo muita energia transformadora.
Então:
Acrescente ao trabalho de ontem, respirar Deus em cada célula. Irrigue seu corpo com a consciência de que a energia Divina permeia todas as realidades. É a mesma respiração que já foi proposta no texto anterior, só que agora conscientemente respirando Deus.
Até o próximo encontro!

domingo, 12 de julho de 2015

Meditar pode ser simples...


Muitas pessoas não meditam, porque entendem que o único processo de meditar é sentar-se na posição de Lótus e entrar de imediato num estado de beatitude. Essa é uma das formas - para quem consegue. Mas você pode meditar de muitas outras formas. Como, por exemplo, apenas respirando. Sim! Respirando, como você faz sempre. A diferença é que vai respirar conscientemente. Siga esses passos: 1) Procure um lugar tranquilo. Sente. Pode ser no châo, num cadeira, numa almofada, num sofá, ou onde se sinta confortável e bem. 2) Ajeite sua coluna, deixe-a razoavelmente ereta, para que a energia vital possa fluir através das suas células. 3) Tome consciência do seu corpo, esteja presente no corpo, sentindo-o todo, respirando normalmente; perceba como está sua respiração. Apenas perceba, sinta. 4) Agora vá mudando o ritmo da respiração: inspire e expire bem devagar, bem profundo. Inspire pelo nariz, bem devagar, como quem enche um balão. (sinta suas células como pequenos balões que se preenchem dessa energia vital). Segure o ar brevemente. Depois solte pela boca, devagar, expirando. Solte tudo, esvazie o balão. Agora, respire normalmente. Depois repita o mesmo processo de inspirar e expirar por 5 vezes. Pra iniciar está bom! Depois darei outras sequências. Bom treino!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ah, a Vida! Por que ela não é perfeita?


Eventos da experiência comum, como seu time perder, frustrações afetivas e profissionais, ou algo que não sai como esperávamos, revelam os padrões comuns de comportamento, emoções e sentimentos humanos. Poucas pessoas enfrentam bem as situações de perda e de suposta derrota - sua e dos outros. E essa é a fonte das dores mais agudas da existência humana. Nosso maior engano é esperar que a vida seja perfeita, que as pessoas sejam perfeitas, que nós sejamos perfeitos e que nada saia do prumo. Sabemos que não é assim. Mas não sabemos, de fato... “Como pode ter acontecido?” Aí a vergonha, o sofrimento e a mágoa chegam pisando forte, quando Dona Vitória fecha a carranca. Se perdem uma competição, os atletas deixam a arena humilhados, de cabeça baixa, como se só houvesse dignidade no levantar o troféu; e se explicam, e se explicam, e pedem perdão, perdão... Cumantão? diria o caboclo! E o outro, o adversário? Não tem seu dia também? Jovens se escondem, vomitam e deprimem porque não passaram no vestibular; amantes se abandonam e se perdem nas expectativas infantis não atendidas.
Não é numa pista de mão única que a vida anda. Não há um jeito só. No mínimo, há dois jeitos. Sim e não, alto e baixo, feio e bonito, sombra e luz, viver e morrer. Quem pode ignorar essa dualidade, sem se quebrar todo? Nem tudo é glamour e salto alto! A vida precisa ser considerada por inteiro, doendo ou não. A qualquer momento surge o inesperado, vindo de fora ou brotado dos desconhecidos porões do nosso EU. Viver o real ás vezes é duro, sim! Mas é sempre melhor que voar sem olhos, ignorando a vidraça - e estilhaçar-se com ela.

terça-feira, 30 de junho de 2015

HOMENS E MULHERES X MULHERES E HOMENS

Outro dia, encaminhei via e-mail, a amigos e amigas, um texto que tem circulado na internet chamado “Carta de Amélia”. É uma sátira bem humorada, aparentemente escrita por uma mulher (desconheço a autoria) que, no auge da sua correria louca, vencendo o dia a dia de cidadã moderna e emancipada, faz comparações jocosas da sua vida "bem sucedida" com a vida simples e sossegada de suas avós. Minha intenção era apenas compartilhar um texto delicioso, engraçado e muito bem escrito.

A inocente Amélia causou rebuliço entre as mulheres a quem enviei. Algumas reagiram com respostas indignadas, empunhando robustas armas verbais. Enfrentaram-me, valentes, usando argumentos a respeito da histórica dominação masculina sobre a mulher. Desancavam, com paixão, o “texto idiota”. Quase ouvia me acusarem: “Que decepção! Machista e traidora!”.

Está evidente que a indignação dessas mulheres não é gratuita, nem infundada. Nossa história guarda feridas profundas na trajetória da condição feminina, cujo desenho ainda está marcado com fogo na carne da civilização. Mas não é esta a reflexão que me proponho a fazer neste momento. Tratarei desse foco em outro texto.

Quero aqui extrapolar a análise pura e simples dos efeitos visíveis da separação, e ir mais fundo, mais próximo de onde isto começa. Os e-mails de minhas amigas me levaram a refletir sobre a polarização que se estabeleceu em nosso mundo entre o masculino e o feminino. Há uma imagem de massa, construída socialmente, que coloca homens e mulheres em campos opostos, como inimigos que se ameaçam. Basta olhar as piadinhas que circulam na internet, os temas que inspiram programas de humor, as alfinetadas e recadinhos postados nas redes sociais, onde homens e mulheres desqualificam-se mutuamente com gracinhas e chistes maliciosamente sem graça.

É fácil perceber que, de modo geral portam-se como num front, batem-se de frente, armados como numa guerra. Confrontam-se nas coisas mais simples, como nas mais complexas: quem ganha mais, quem é mais letrado, quem dá banho na criança, quem é mais carinhoso, quem lava a louça, quem educa melhor os filhos, quem lembra as datas, quem controla o orçamento, quem é mais gordo, mais magro, quem tem o melhor emprego, quem tem mais amigos, quem é mais, quem é menos, quem fala, quem cala (rangendo os dentes!). Atentem que não estou falando de uma saudável divisão de tarefas. O assunto aqui é o embate para decidir quem pode mais!

É uma espécie de luta perene, um “MMA” sem juiz e sem marcação de tempo para cada round, onde cada um se ilude, tentando levar a melhor. O que frustra e cansa é que nesse jogo ninguém ganha, ninguém leva o cinto. É nocaute duplo, quando não múltiplo, porque os socos e chutes sobram para os filhos, num autêntico e triste “VALE TUDO!”.

Como nas lutas dos “octógonos” da vida, cada um exibe músculos e carrancas. Em muitos casos, só se olham porque precisam estar atentos aos golpes que virão do adversário, ou para intimidá-lo com a promessa de um golpe mais duro. É como se, no fundo, cada um acreditasse que o outro quer mesmo é tirar sangue de seu supercílio.

É claro que existem relações boas e saudáveis. Conhecemos muitas. São pessoas que se reconheceram nas suas humanas dificuldades e, em se reconhecendo, conseguiram reconhecer e respeitar a singular humanidade do outro.

O curioso e contraditório é que a maioria dos homens e mulheres que vão aos consultórios psicológicos, ou que buscam outro tipo de aconselhamento, anseia profundamente por sua realização como homens e como mulheres, através da união com seus parceiros. Paradoxalmente, no entanto, fogem do encontro desejado. Como cada um desconhece suas próprias necessidades, emitem exigências cegas e inconscientes em relação ao outro, impossíveis de serem satisfeitas. Nos subterrâneos do sentimento engendram contendas, inventam necessidades e demandas, criam situações de ódio e agressão, numa clara estratégia para se distanciarem. Fogem do que mais querem. Odeiam o que mais amam.

Para refletirmos sobre essas questões, precisamos considerar que vivemos num mundo de dualidades. Tudo se apresenta oscilando entre, no mínimo, dois polos. Todas as manifestações da vida se expressam em polaridades ou opostos: feio e bonito; alto e baixo; bom e mau; claro e escuro; amor e ódio; saúde e doença; vida e morte; vencedor e vencido, e por ai afora. A cosmologia das religiões, a mitologia e os diversos caminhos espirituais, ao longo dos séculos e milênios, têm construído suas doutrinas, cultos e pregações em conceitos duais: céu e inferno; zonas de luz e de tormentos; anjos e demônios; divindades do bem e do mal. A dualidade se manifesta também na existência dos dois sexos. Isto é presente em toda a natureza.

Mesmo na dualidade, homens e mulheres não são tão diferentes quanto pensam. Todo ser humano tem características masculinas e femininas. Cada homem traz em sua alma o lado feminino de sua natureza, e cada mulher traz dentro de si o lado masculino de sua natureza. Não que sejamos seres de sexualidade indefinida ou neutra. Evidente que não é assim. Ao nascer, cada pessoa manifesta a prevalência de uma ou outra expressão: masculina ou feminina. Tudo na vida encontra o equilíbrio nessas duas energias. Yin e Yang. Ativação e espera. Assertividade e receptividade.

De forma muito simplificada podemos dizer que, durante séculos e séculos o homem suprimiu e desestimulou o desenvolvimento de sua natureza emocional e intuitiva, privilegiando a força e a inteligência. Com as mulheres aconteceu o inverso. Elas tiveram que negar e reprimir sua inteligência, poder e criatividade, privilegiando a intuição e a emocionalidade. Isso perdurou por muito tempo até que surgiram os movimentos de “emancipação”. Significa que o homem e a mulher levaram séculos empurrando para baixo suas tendências “opostas”, sentindo-se inadequados por causa delas.

Onde se manifesta a distorção? Você teme no outro o que teme em você. Por outro lado, o medo de não realizar seu próprio potencial, cria o medo em relação ao outro sexo. É aí que se dá a quebra, instala-se a confusão e o ser humano se divide naquilo em que é mais completo - a unidade consigo mesmo. Dividindo-se internamente, também divide o que está fora. Na essência somos uma unidade, um sistema, com partes harmoniosamente complementares. No estado de iluminação é possível viver assim também com o outro.

A forma como a pessoa se relaciona com o sexo oposto, é sempre um indicador da sua liberdade ou prisão interna em relação à própria masculinidade ou feminilidade. Ou seja, a barreira que se coloca ao reconhecimento do sexo oposto, revela uma barreira similar no que se refere ao próprio sexo. Quanto mais acirrada é a luta, expressa ou velada, contra o outro sexo, maior também será a sua luta contra sua própria condição de homem ou de mulher.

Quanto mais prevenção contra o outro, maior é a prevenção contra si mesmo. Como, de modo geral, não atinamos para o que somos, não aprendemos a confiar em nossa grandeza e divindade. Assim nos mantemos desconectados do “Eu Real” e estagnamos na separação e no sofrimento.

Fragmentados interiormente, não podemos viver externamente a união. Afastando-se do outro, a alma revela o quanto está afastada de si mesma, perdida de sua unidade intrínseca. Já não sabe sobre seu anseio e se distancia da comunhão - consigo e com o outro sexo. (Ray do Vale – JAN 2013)

(Fonte de Consulta: Palestra PATHWORK 062 – Eva Pierrakos).
((republicado)

Meu primogênito Raniery Branco!


Alegria maior de um coração de mãe de primeira viagem. Muito antes de ser gerado eu já o conhecia em sonhos, um lindo bebê, tal qual o veria mais tarde, aos três quatro meses! Já havia um pré-acordo! Cedo aprendi a cuidar dele. E foi fácil. Ele foi uma criança que qualquer mãe cuida bem. Comprei um livro que me ensinou o básico. Depois, segui a intuição. Simples e despojado, desde pequenino! Foi o único dos cinco que aproveitou as coisas do campo, no sítio dos avós. Adorava criar cobras, camaleões, peixes, girinos, minhocas, jabutis, e toda a fauna que ele encontrava nas excursões por matas e igapós, junto com vovó Chiquinha. Ela sempre teve a mesma idade que ele. Até que ele cresceu. E vovó Chiquinha continuou criança, tomando banho de igarapé, dando risadas divertidas, pregando peças nos netos e contando suas piadas, nem sempre apropriadas para crianças.
Falar dele como homem é redundante e lugar comum. Ele é tudo de bom! Quanto sentei para escrever esta homenagem, as memórias da sua infância borbulharam como brotam os olhos d’água das cacimbas. Com cores, cheiros e sons. São lembranças de uma linda fase da nossa vida. Sou grata por tudo o que recebi! E foi muito. E sou grata ao seu pai DOMINGOS NERI BRANCO, que partiu recentemente para outro plano da vida. Que Deus o receba! Ele, que me presenteou com a dádiva de ser mãe pela primeira vez. E de ser mãe de um Homem de Bem!
17/06/2015

FABYOLA, MINHA ESTRELA

Hoje tem celebração! Fabyola Vale Machida. Ela espera meus escritos como uma criança de antigamente esperava o bolo da vovó assando no forno! (as crianças do smart já não curtem bolo da vovó... que pena!). E o bolo dela, digo, o poema dela, tem que ser o mais belo, o mais exclusivo, com rima rica e métrica de derreter o coração! Ela exige! Nada de verso solado! Precisa ser banhado em calda especial, com receita única e toque exclusivo da Chef Mãe! Toda criança merece essas doçuras! E ela não terá em versos, desta vez, mas em boa prosa. Um tipo de castigo por uma tolice que ela fez: levou para bem longe, junto com ela, os brigadeirinhos mais preciosos e refinados da minha vida: um japonesinho e um lourinho, sapecas e lindos como jujubas coloridas, que acham engraçado e riem me vendo derramar lágrimas de chantilly quando os vejo pela vitrine fria e sem sabor, da internet. E eu aqui, uma vovó na orfandade, continuo amarrando laços de saudade e enfeitando caixinhas cheias de lembranças multicores, das infindáveis e repetidíssimas historinhas que inventei e contei para eles em memoráveis noites de lindas fantasias!
Filha, que o passar dos dias, aprofunde a sua sabedoria e estimule a sua Fé! Que Deus te Abençoe, minha fiha! O Forno que aqueceu a sua vida continua quente!
20/06/2015

domingo, 28 de junho de 2015

PARE AGORA, LYOTO! VÁ VIVER...

PARE AGORA, LYOTO! VÁ VIVER...
Lyoto é uma alma nobre, espiritual e sensível. Nunca entendi sua entrada nesse mundo selvagem, de pessoas e valores tão diferentes dos que ele sempre cultivou. Assim mesmo sempre o apoiei, sem julgamentos ou avaliações. Detesto a luta, mas amo o lutador. A admiração e a confiança que tenho na sua integridade e bom senso, foram a senha para que respeitasse o caminho que escolheu. Ele saberia a hora de parar. Tomara seja logo!
Lyoto já viveu o seu sonho de criança, quando acordava de madrugada, driblando a vigilância da família pacífica e bem formada, para assistir os “telecatch” da vida, sonhando ser um daqueles monstrengos que, naquela época, apenas fingiam bater, em cenas de pseudoviolência e escancarado pastelão. E quando cresceu, como é da sua índole, correu atrás do desejo da sua criança.
Mas... me permito dizer agora: definitivamente, Lyoto não cabe mais nesse mundo sangrento, que não finge ferir, fere mesmo! Ok. Ele já viveu a experiência que desejou viver. Se o universo dos chutes e socos letais sempre foi violento, cada dia se torna mais perigoso e distante da alma de Lyoto. Hoje, mais que antes, é um mundo de criaturas anabolizadas, verdadeiros feixes de músculos artificiais, duros e impiedosos como barras de aço. Lyoto não combina com músculos fabricados em oficinas nem sempre éticas. Ele jamais apelaria para meios escusos. Sua marca é a disciplina e a disciplina. Seu recurso maior, a meditação e uma alimentação super equilibrada, sob orientação técnica, e amorosamente cuidada pelas mãos de alguém tão disciplinada quando ele – sua mulher. Essa tarefa ela não delega a ninguém. Seus pratos balanceados vem da alquimia de um amor incondicional e de um cuidado irrestrito, quase espartano. Como misturar o Lyoto dos sucos verdes, das fibras integrais, do cardápio ao óleo de coco, com aqueles homens mecânicos, cyborgs contemporâneos?
Vá viver, Lyoto! Você já atendeu ao seu desejo de menino! E já ofertou o que podia àqueles que admiram apenas o lutador. Esses só lhe festejam na vitória. São impiedosos quando o jogo vira. Agora aproveite os que amam o homem, o SER, o cidadão comum, que perde e ganha nos jogos da existência, que erra e acerta; volte a viver sua alma brincalhona, aprontar suas conhecidas “pegadinhas” de mau gosto com os amigos. Vá comer seu bife com batata frita e tomar um suco nutricionalmente incorreto, cheio de açúcar, aqui e ali, como qualquer menino piolhento e de pé sujo. Deixe o mundo dos homens que se esqueceram de si mesmos e vá ser um pouco o moleque de joelhos escoriados de alegria. Seja menino de novo! E diga aos outros meninos, esses sim, iguais a você: fui, venci, perdi. E daí? Estou de volta pro meu aconchego! E pra minha pipa! Go, menino Lyoto! Boa pelada!
www.ray-vale.blogspot.com

segunda-feira, 15 de junho de 2015

FILHOS X PAIS: A BALANCA DESIGUAL


A maioria dos filhos não sabe ou não vê, mas todos os que nasceram e continuam respirando, receberam muito de seus pais. Por mais que reclamem que foi pouco ou que foi tosco o que receberam. Como se receber de presente o dom da vida já não fosse uma grande dádiva!
Na balança do dar x receber, filhos sempre ficam no prato de baixo. Para Bert Hellinger, eles só equilibram a balança quando tem seus próprios filhos; ou quando se dedicam a boas causas em favor dos filhos alheios.. Principalmente os que foram cuidados , nutridos, escutados e afagados. Esses tem muito o que devolver. Poucos estão atentos. Felizes os que atravessam essa matemática desigual. Saudáveis por si mesmos e pela descendência.
Mesmo aqueles que apenas nasceram e nada mais tiveram de quem os gerou... No mínimo, houve a permissão à manifestacão da vida neste plano. E isto é muito grande!
15/06/2015

domingo, 31 de maio de 2015

OS CINCO


Escolhi cada um, em bom momento
Foram cinco! Não menos, certamente!
Já havia uma história decidida,
Pré-acordo de outras vindas, tantas vidas,
E cá estamos nós, juntos novamente.
A todos recebi em belos sonhos,
Antes de conceber, seus rostos via.
E o amor que em minh’alma transbordou
Quando em meus braços cada um chegou,
Não dá pra descrever. Eu só sentia!
Abri a todos, com amor, o peito,
Nutri com o farto leite que escorreu.
Nenhuma queixa, quando a mama se feria,
E o leite quente se juntava com a sangria,
Da dor que por amor, nem bem doeu.
Hoje são homens, mulheres, mães, adultos,
Pés seguros marcando o próprio chão,
Escolheram caminhos deram passos,
Mas do que dei se mantém os fortes laços,
No plantio novo que sai de jovens mãos.
E a colheita do bem que neles vejo,
Só me diz que plantei em chão fecundo.
A terra boa recebe e multiplica,
E em minha’alma floresce, anima e fica:
Que foi tão bom vir com eles pra este mundo!

Para todos os meus filhos, noras e genros nos dois meses abençoados de MAIO E JUNHO.

Ter todos os filhos, genros e noras aniversariando em apenas dois meses é um fenômeno no mínimo curioso. Pois comigo é assim. Cinco filhos e seus respectivos cônjuges, parceiros, namorados e namoradas, TODOS nasceram em maio e junho. Dez aniversários em dois meses. E haja inspiração pra fazer poeminhas de amor para todos! Assim, reedito um poema que fiz ano passado, nesta mesma data.
09 de maio – Alana do Vale
18 de maio - Rafael Gemaque (o mais recente do grupo)
23 de Maio – Maria Helena Freire
25 de maio – Livia do Vale
30 de maio Lyoto Machida
31 de maio – Saulo do Vale
16 de Junho – Nelson Hernan
17 de junho – Raniery do Vale
20 de junho Fabyola do Vale
29 de junho – Cintia Balieiro

sexta-feira, 15 de maio de 2015

VOU ME MUDAR PARA A CASA DO VIZINHO!


Nunca vi alguém fazer um comentário negativo no Face, ou em outro espaço público, do tipo: "Isto só acontece na minha casa "Esta é minha família! Tenho vergonha de ter nascido aqui!" "Estão vendo? Só podia ser a minha mãe mesmo!" "Na casa da mãe do outro tudo funciona!” "Tenho vergonha de ter esta mãe!” "Vou me mudar pra casa do meu vizinho!"
Pois bem! Nossa Pátria é nossa casa, nossa mãe, nossa família! Renegar pai e mãe biológicos ou detonar nosso País, faz parte do mesmo movimento. O de autonegar-se, depreciar as próprias raízes, rir do DNA dos nossos antepassados, desprezar o nosso futuro e a nossa raça. Uma árvore sem raiz não se sustenta. A Pátria-Mãe é nossa raiz, nossa base. Mesmo que não a amemos, precisamos honrá-la. Senão mergulharemos, fragmentados, num fosso de desesperança e descrença em nós mesmos. Porque o Brasil é cada um de nós.
Revelamos um prazer mórbido em falar mal do nosso País, em denegrir os seus valores, destacar as suas misérias! Às vezes, os brasileiros até aplaudem quando um estrangeiro mal educado, ou um jornal alienígena fala algo negativo sobre nosso País! A nossa imprensa, a brasileira, dá destaque àquela manchete, no horário nobre, como que cantando vitória. "Vejam só! Os estrangeiros também acham! Que maravilha!"
O que isto revela sobre nós? O que diz da nossa autoconsideração e da nossa autoimagem? Toda separação é ilusão. O Pais somos nós. Da mesma forma que somos a nossa família, o grupo a que pertencemos. O dedo apontado para fora de nós é falha certa na pontaria. Se empurrarmos nosso País para o lixo do deboche e do desprezo, porque ele tem problemas, é melhor que pulemos junto desse trampolim.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PRESENTE

O passado realmente não importa. O que existe é o presente. O passado cumpriu sua função. A verdadeira energia repousa no presente, onde está todo o nosso poder.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

SER BOM, OU SER “BONZINHO”?


SER BOM, OU SER “BONZINHO”?
Ser BOM é diferente de ser BONZINHO. O bom está presente no seu próprio mundo, sabe dizer NÃO quando o não é adequado e sabe dizer SIM, quando o sim é saudável e positivo - para si e para o outro. Está com o outro, mas está consigo. Ama o outro como a si mesmo. Abre-se ao movimento generoso com o parente, amigo ou qualquer pessoa, sem perder de vista que o outro tem o poder de conduzir sua própria vida. Respeita as escolhas e as crenças alheias e não carrega a arrogância de se atribuir a responsabilidade pelo que não é de sua conta.
O bonzinho vive a fantasia de que é responsável por todos, que tem que agradar sempre, negando a si mesmo; faz o que o outro deveria fazer, empanturra-se de responsabilidades, tem dor nas costas de tanto peso que carrega; orgulha-se de ser o pacificador dos conflitos à sua volta, coloca-se como responsável pela salvação dos que o cercam. Tem a autoimagem idealizada de que é santificado. Geralmente torna-se o “jegue” de parentes aproveitadores, de amigos espertinhos e de quem mais quiser montar.
Essa necessidade de agradar vem de uma fome profunda de ser amado, receber admiração e aprovação. Ele sofre de uma avidez constante de ser visto, considerado, nutrido, cortejado pela sua “bondade”. Carrega na alma necessidades antigas, imagens remotas de abandono e exclusão. Vive com fome do outro. E para receber o alimento que busca fora de si, vende a alma, abre mão do descanso, desconhece suas próprias necessidades.
Pais bons pais criam filhos saudáveis; pais bonzinhos criam dependentes ou tiranos. Amigos bons encontram parceiros; amigos bonzinhos atraem parasitas. Esposas e maridos bons encontram companheiros; os bonzinhos unem-se a déspotas, tornando-se escravos. Filhos bons dão a seus pais o amor e o cuidado devidos a quem lhes deu a vida; filhos bonzinhos expõem-se à exploração, seja de pais, seja de irmãos preguiçosos e comodistas, escorados na bondade faminta do doador sem limites.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

QUARTA DE CINZAS, EM BELÉM

Na quieta manhã, cinza e molhada,
Desfila, soberana, a chuva morna,
Gostosona e farta.
(Nem aí para os dramas da ressaca).
Acabou o Carnaval.
Manhã cedo,
Sai varrendo a calçada passarela,
Como um gari no samba.
Sem ensaio e sem enredo.

Lança perfumes de pura brejeirice,
Fantasia de limpeza as ruas nuas,
Que, de tão órfãs,
Já nem contavam com tamanho agrado.
As folhas foliãs caem na espuma,
Nadando, bêbedas de riso.
E celebram o batuque da enxurrada.
O silêncio se estica, preguiçoso,
Puxa o lençol de vento
E cochila de novo,
Indiferente ao carro som da alvorada.

A destaque das tardes de Belém,
Caprichosa, aparece de manhã,
E, só de má, pra se vingar,
Vai jogando, sapeca, nos bueiros,
Da Cidade mal cuidada,
O rescaldo, o mau cheiro, a lixarada.
Quem quiser, limpe depois!
A sala tá arrumada!
(Ray do Vale)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A CARA DO MEDO


Não é negando o medo que se vence o medo. Nem é sufocando a tristeza, a frustração ou a mágoa que você vai ultrapassar saudavelmente essas emoções. "Esquecer", jogar uma pá de cal, empurrar para o porão aquilo que lhe marcou pode ser um caminho falso. Mais tarde esta energia pode subir à tona em circunstâncias fora de controle, numa reação desproporcional ao fato. Ou o corpo drena; então a pessoa adoece, deprime, ou desaba em fúria e mágoa sobre alguém, sem saber como nem por quê. Olhar de frente, dialogar com o sentimento presente, questioná-lo é sempre o melhor caminho de cura.
Uma boa forma de apoiar um estudante às vésperas do vestibular, por exemplo, é ajudá-lo a olhar na cara do medo: medo do “concorrente”, medo do medo , medo de desapontar os pais; e até o medo de não dar dividendos comerciais ao curso onde estuda. Com essa permissão ele rende muito mais e encara com mais calma o momento decisivo. O contato verdadeiro com a realidade interna sempre oferece mais recursos do que fugir dela. Não se pode domar um bicho que não se vê."
Ray do Vale
www.ray-vale.blogspot.com

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

VOVÓ LOLÓ


Falar de avós, avôs e netos é sempre um bom tema. Na ciência psicológica e no senso comum. Quem não tem saudade desse amor lambuzado de "brigadeiro" na sua vida? Quem não sente falta dessa presença sem censuras - mais doce do que doce de batata doce? Ela é marcante na fase infantil, toca a construção afetiva da personalidade e guarda marcas por toda a vida adulta. Feliz de quem teve seus avós por perto! Filhos bons e amorosos, geralmente tem pais que honram ou honraram seus próprios pais. Há exceções, mas geralmente é assim. Relações de amor e respeito também são aprendidas. Pode-se dizer que, de certa forma, os pais imprimem na alma de seus filhos a imagem do que receberão deles na vida adulta. Crianças aprendem o tempo todo. E aprendem mais pela observação do que absorvendo discursos.
Pais e avós são raízes que nos conectam com o nosso nome e com a nossa história. Não importa o que sejam ou o que tenham feito. Nem é preciso amá-los. Apenas honrá-los, no mínimo em homenagem à Vida!

domingo, 25 de janeiro de 2015

OUVIR...

Muito ruim, quando num momento dificil, a gente se abre numa confidência, ou num desabafo e o outro, ao invés de escutar, vem logo dando uma solução do tipo: "deixa pra lá!" "não liga pra isto!" "mas também! tú fez por onde!"
Melhor é o silêncio compreensivo e atento, ou simplesmente diz algo como: "é... sei como é difícil..."

PARA ALANA

Ela ontem concluiu sua matrícula na UNAMA, Direito. Fiquei muito feliz e grata à Vida, por tudo que me devolve! Meu último rebento dando passos importantes rumo à independência. Não tenho dúvida de que fará uma carreira brilhante. Escrever e argumentar é o de que ela mais gosta. (além de McDonald, claro!) Sempre que alguém me pergunta se tenho medo de morrer, respondo: não, porque sei que aqui é apenas um estágio da vida - que é muito mais que a pequena experiência no plano físico. Mas, como toda mãe normal, desejo ver meus filhos independentes de mim, antes de terminar esse estágio. Que Deus te guarde, ilumine e guie, filha! Orgulhe-se de você, celebre suas conquistas e entre com coragem e fé, que a Vida é benigna e devolve em abundância tudo aquilo que plantamos.

E...

E chega aquele momento em que você nada mais tem a dizer, ou fazer... É como chegar à beira do abismo, sem possibilidade de volta. É atirar-se e flutuar...

A RAINHA ESTÁ NUA?

O rei está nu! ou A rainha está de bege!
Fico a imaginar em que medida podemos contribuir para melhorar o Brasil, perdendo nossa preciosa energia em apontar uns quilos a mais ou uma cor a menos no corpo ou no figurino de um governante, como se isto fosse uma questão de alta valia... Independente de aprovarmos ou não a pessoa e sua atuação, o que muda, se ela não atende ao modelo de beleza que a sociedade tiranicamente sentencia, incluindo e excluindo quem não se enquadra? Qual a diferença se a criatura - governante ou cidadão comum - tem rugas, pneuzinhos, se é jovem ou maduro, homo ou hetero, se parece um cabide ou um tonel, se é branco, preto ou cinza? Lembro de uma eleição em que Almir Gabriel perdeu para o seu tempo de vida. O adversário deitou e rolou na "velhice" do cidadão.
É quando a ideologia política cede espaço ao preconceito e vamos reforçando, inadvertidamente, os exigentes, magros e musculosos padrões expostos em todas as vitrines; sem pensar, acabamos sintonizando com a dança frenética vendida pelas "oficinas" de mulheres e homens anabolizados e de corpos impecáveis (impecáveis!?). Há muita gente, inclusive adolescentes e crianças, perdendo a vida, a saúde e o senso de realidade nesta busca louca da beleza seca, medida e milimetrada. A peso de ouro! E de muito mais!

DEUS

O homem sussurrou:
"Deus, fale comigo"... e um passarinho cantou. Mas o homem não ouviu.
Então, o homem gritou:
"Deus, fale comigo"...
E trovões e raios apareceram no céu.Mas o homem não notou.
O homem olhou em volta e disse:
"Deus, deixe-me ver o Senhor" E uma estrela brilhante apareceu. Mas o homem não percebeu.
O homem gritou:
"Deus, mostre-me um milagre". E uma vida nasceu.Mas o homem não reparou.
Então, o homem clamou em desespero:
"Toque-me, Deus, e deixe-me saber que o Senhor está aqui"... Ao que Deus o tocou suavemente. Mas o homem espantou a borboleta que pousara no seu ombro.

CONSTELAÇÕES FAMILIARES DE BERT HELLINGER


Os nossos laços afetivos com a família são muito poderosos, principalmente quando não temos consciência disso. Continuam atuando em nossa vida e, muitas vezes, somos prisioneiros de acontecimentos ocorridos em gerações passadas, dos quais não temos conhecimento.
A terapia das Constelações Familiares é um método que visa trazer à consciência a dinâmica que está oculta e que pode estar causando sofrimento a uma pessoa, através da repetição de padrões que pertencem à sua história familiar. Ajuda a fechar pendências familiares, deixando cada pessoa com sua própria responsabilidade e seu lugar de dignidade na família.
A origem de muitos dos nossos problemas, inclusive doenças graves, suicídios, dependências, desorganização da estrutura familiar podem estar nos emaranhamentos com antepassados.
(Próximo encontro: 28/01/2015)

GUARDADOS


Memórias, fragmentos da jornada do coração. Tudo contido na moldura do silêncio. Tão calorosa e tão fria... Na lembrança deles o que ficará? O que lhe contarem, talvez... Na minha, o maior amor possível neste mundo de amores pequenos... O mais é distância. Comigo ficou o olhar do palhacinho (triste?). Ah! E a fralda amarelada, repousando quieta, entre tantos pequenos tesouros, no baú da saudade. Onipotente e impotente saudade.

sábado, 3 de janeiro de 2015

O rei está nu! ou A rainha está de bege!


Fico a imaginar em que medida podemos contribuir para melhorar o Brasil, perdendo nossa preciosa energia em apontar uns quilos a mais ou uma cor a menos no corpo ou no figurino de um governante, como se isto fosse uma questão de alta valia... Independente de aprovarmos ou não a pessoa e sua atuação, o que muda, se ela não atende ao modelo de beleza que a sociedade tiranicamente sentencia, incluindo e excluindo quem não se enquadra? Qual a diferença se a criatura - governante ou cidadão comum - tem rugas, pneuzinhos, se é jovem ou maduro, homo ou hetero, se parece um cabide ou um tonel, se é branco, preto ou cinza? Lembro de uma eleição em que Almir Gabriel perdeu para o seu tempo de vida. O adversário deitou e rolou na "velhice" do cidadão.
É quando a ideologia política cede espaço ao preconceito e vamos reforçando, inadvertidamente, os exigentes, magros e musculosos padrões expostos em todas as vitrines; sem pensar, acabamos sintonizando com a dança frenética vendida pelas "oficinas" de mulheres e homens anabolizados e de corpos impecáveis (impecáveis!?). Há muita gente, inclusive adolescentes e crianças, perdendo a vida, a saúde e o senso de realidade nesta busca louca da beleza seca, pesada e milimetrada. A peso de ouro! E de muito mais!

(A propósito da roupa que a Presidente vestiu na cerimônia de posse, em 01/01/2015)