segunda-feira, 19 de novembro de 2012

RESPOSTA A UMA AMIGA SOBRE SEU CONFLITO COM SUA CRENÇA RELIGIOSA

Querida,
Sobre sua pergunta: "Me pergunto e agora, meu Deus, a que grupo religioso vou pertencer?". Há uma parte sua que quer se libertar dessa amarra (isto é bem seu! liberdade, liberdade!) e há outra parte sua que deseja ainda pertencer ao grupo religioso. Analise e ouça essas duas partes conflitantes.
Veja só: pertencer a um grupo religioso é uma necessidade humana que deriva da tendência que todos nós temos para buscar algo maior, algo divino, algo melhor do que aquilo que vivemos; enfim, a nossa busca de DEUS. É a busca do nosso coração. A Humanidade sempre viveu essa busca e adorou o Sol, as estátuas, os deuses, as deusas, a natureza, etc. Para isto precisou agrupar-se, formar organizações, grupos. Quando a nossa compreensão de espiritualidade e religiosidade vai se ampliando, essa necessidade vai diminuindo, porque aprendemos a vivenciar Deus de outras formas, sobretudo aprendemos a vivenciar Deus em nós, em nossa ação, em tudo o que existe.
Veja qual é a sua necessidade; você ainda precisa de uma religião para vivenciar a sua espiritualidade? Se precisa, siga sua alma e seu coração. Ter uma religião não é algo ruim. Às vezes a gente pode ficar na religião por amor: amor às pessoas, ao compromisso, ao trabalho. Pode-se ficar também para treino de humildade. Quando a gente avança um pouquinho na compreensão nova, vem um certo sentimento de "sou melhor"! Há coisas boas no seu grupo religioso? O que você pode dar a esse grupo? Que luz você pode levar? Quer dar algo ? Ou não?
Uma coisa é certa: não é uma lei externa que deve nos comandar. Mas a nossa lei interna.
Se não precisa do Grupo e se o grupo não precisa de você, mais uma vez ouça seu coração. Busque qual é o comando interno que lhe impõe que você frequente uma religião. Vou levantar algumas possibilidades: lealdade à religião dos pais? Lealdade aos amigos que ainda pertencem ao Grupo? Dificuldade em retirar a sua ajuda que pode ser boa? Imposição social de que todo mundo tem que ter uma religião? Vergonha de parecer "perturbada" porque abandonou sua tarefa?
Vou lhe oferecer uma dica: abraçar o Xamanismo ou outra crença qualquer não implica abandonar a antiga. Há coisas que convivem bem, sem incongruências. O que importa é você perceber qual é o seu desejo e sua necessidade.
Veja o que significa o Espiritismo pra você? É o mesmo que significa o seu marido? Aquele que cobra, que impõe, que prende, que limita, que exige?... Melhor separar? Vou lhe mandar duas palestras que talvez lhe ajudem a compreender essa sua "briga" com a autoridade, com o que limita, prende, impões, proíbe.
Vá devagar, sim? Ore, medite, peça guiança. A resposta virá. Se não vier com muita clareza, aceite isto. Nem tudo fica claro de uma hora para a outra. Ficar na confusão também pode ser um importante passo. Um abraço. Fique com Deus!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

PALESTRA PATHWORK 183 - O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DA CRISE

Palestra Pathwork n.º 183

O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DA CRISE
Qual é o significado real, espiritual da crise? A crise é uma tentativa da natureza, da ordem natural e cósmica do universo de proceder a mudanças. Se a mudança é obstruída pela parte da consciência que comanda a vontade, o resultado é uma crise, a fim de tornar possível a mudança estrutural.
Não se pode chegar ao equilíbrio sem essa mudança estrutural na entidade. Em última análise é esse o significado de toda crise, não importando que ela apareça na forma de dor, dificuldades, convulsão, incerteza ou simplesmente a insegurança de se trocar um estilo de vida conhecido por um novo, com o qual não se está acostumado. A crise em qualquer forma, formato ou maneira procura sacudir velhas estruturas de equilíbrio que são baseadas em conclusões falsas e, portanto, em negatividade. Ela destrava estilos de vida arraigados e estáticos de maneira a tornar possível um novo crescimento. Ela demole e quebra, o que é momentaneamente doloroso, mas não se pode pensar em transformação sem ela.
Quanto mais dolorosa a crise, mais a parte da consciência que comanda a vontade vai obstruir a mudança necessária. A necessidade da crise é tão grande porque a negatividade é uma massa cristalizada que precisa ser sacudida para poder se desfazer. A mudança é parte integrante da vida. Onde existe vida, existe mudança permanente. Somente os que ainda sentem medo e negatividade , os que resistem a mudanças, vêem a mudança como algo que deve ser combatido. Nesse caso, eles resistem à própria vida e ficam ainda mais confinados ao sofrimento. Este fato se aplica a pessoas, não somente de maneira geral, como características gerais do desenvolvimento total, mas também a aspectos específicos de uma pessoa. Em outras palavras, os seres humanos podem ser livres e saudáveis em algumas áreas nas quais eles não resistem a mudanças. Estão em harmonia com o movimento universal e, portanto, nessas áreas específicas eles constantemente se expandem, crescem e vivem de uma maneira profundamente satisfatória. Esses mesmos indivíduos reagem de maneira completamente diferente nas áreas onde há bloqueios. Temerosos, eles se agarram a situações imutáveis dentro e fora de si mesmos. No primeiro caso, a crise está relativamente ausente de sua vida; no segundo caso, a crise é inevitável.
Crescer como ser humano significa libertar os potenciais intrínsecos, que são realmente infinitos. Quando as atitudes negativas estão cristalizadas, o desenvolvimento infinito desses potenciais é impossível. Somente a crise pode demolir e quebrar uma estrutura que foi construída sobre premissas falsas, que contradizem as leis das verdades cósmicas, do amor e da satisfação. As crises corrigem os estados cristalizados, que são sempre negativos.
Nós trabalhamos intensamente para livrar vocês de suas negatividades. O que são elas? Os falsos conceitos, as emoções e atitudes destrutivas e os padrões de comportamento que brotam delas, as falsas aparências e as defesas. Mas nada disso representaria uma grande dificuldade se não fosse pela sua força de autoperpetuação que reforça todo aspecto negativo, em um impulso sempre crescente dentro da psique humana. Como vocês sabem, todos os pensamentos e sentimentos são correntes de energia. Vocês também sabem que a energia é uma força que aumenta por seu próprio impulso—sempre com base na natureza da consciência que nutre e guia a corrente de energia em questão. Assim, se as idéias, os conceitos e os sentimentos fundamentais estão de acordo com a verdade, sendo portanto positivos, o impulso autoperpetuador da corrente de energia colocada em marcha vai aumentar ad infinitum as expressões e atitudes implícitas nos pensamentos fundamentais. Abordaremos isso mais tarde em maiores detalhes. Se as idéias, os conceitos e os sentimentos são baseados em erros, sendo portanto negativos, o impulso autoperpetuador da corrente de energia colocado em marcha vai aumentar e se reforçar. Mas não ad infinitum.
Alguns exemplos: vocês sabem que os falsos conceitos criam padrões de comportamento que, inevitável e inexoravelmente, parecem comprovar a exatidão da suposição, de maneira que o comportamento defensivo e destrutivo vai se arraigar mais firmemente na essência da alma. Todos vocês que trabalham no caminho têm batalhado e combatido tais obstáculos internos. Vocês descobriram a verdade dessa afirmação, que eu fiz pela primeira vez há muitos anos. O mesmo princípio se aplica aos sentimentos. Com relação aos sentimentos destrutivos, vamos analisar alguns exemplos. O medo por si mesmo poderia ser facilmente superado se fosse questionado, pondo a descoberto sua base de falsos conceitos e a maneira errônea de lidar com ele.
Deixando de lado o fato de que muitas vezes as emoções manifestadas não são emoções imediatas, básicas (o medo pode ser um disfarce da raiva, a depressão pode ser um disfarce do medo, etc.) a dificuldade é que o medo cria medo de encarar e transcender o medo. Assim, uma pessoa teme esse medo de ter medo, e assim por diante. Ele se reforça.
Ou então vamos analisar a evolução da depressão. Também aqui se os motivos subjacentes do sentimento original de depressão não forem corajosamente expostos, a pessoa se deprime por estar deprimida. Ela poderá, então, achar que deveria ser capaz de enfrentar essa depressão, ao invés de se deprimir por causa dela, mas na realidade essa pessoa não está disposta a fazer isso, e portanto é incapaz de fazê-lo. Assim, fica deprimida por estar deprimida – e isso a deprime ainda mais. E assim por diante. A primeira depressão ( ou medo, ou qualquer outra coisa) é a primeira crise à qual não se prestou atenção, cujo verdadeiro significado não foi compreendido. Ela é evitada, de maneira que a depressão por se estar deprimido vai se instalar, aumentando sempre, autoperpetuando-se. A consciência vai se distanciando cada vez mais do sentimento original, e portanto se distanciando de si mesma. É cada vez mais difícil identificar o sentimento original. O aumento do impulso negativo finalmente leva a um colapso da autoperpetuação negativa. Ao contrário da verdade, do amor e da beleza, que são atributos divinos infinitos, a distorção e a negatividade nunca são infinitas. Elas encontram seu próprio fim quando a pressão explode. Isso é doloroso, é uma crise, e a entidade geralmente resiste a isso com todas suas forças. Mas imaginem se o universo tivesse sido criado de forma diferente e a autoperpetuação da negatividade também continuasse ad infinitum. Seria um inferno eterno.
Esse princípio é muito claro no tocante à frustração. A maioria das pessoas consegue ver de forma relativamente clara que a frustração em si é mais suportável que a reação de frustração ao serem frustradas. Ou a raiva de si mesmas por estarem com raiva. Ou a impaciência com a própria impaciência, querer reagir de maneira diferente – o que não é possível porque as causas básicas não foram trazidas a descoberto e enfrentadas. Portanto, a “crise” de emoções tais como raiva, frustração, impaciência, depressão, etc., não é reconhecida pelo que ela é, o que faz inchar cada vez mais a autoperpetuação negativa, até a explosão final. Nesse caso, a crise é evidente.
A crise pode significar, se conscientemente escolhermos isso, o fim do contínuo inchaço da autoperpetuação negativa. Quando ocorre a erupção, a escolha entre reconhecer seu significado ou continuar a fugir assume contornos mais nítidos. Mesmo se essa erupção não levar a um reconhecimento e a uma mudança interna de direção, fatalmente virá uma crise final e a entidade não poderá mais evitar a mensagem da crise. No fim das contas, a personalidade verá que essa erupção, esse colapso, essa crise, visam demolir as velhas estruturas para que uma estrutura nova e mais eficiente possa ser erguida.
A “noite escura” dos místicos representa essa época de colapso das velhas estruturas. A maioria dos seres humanos ainda está imersa na escuridão da falta de compreensão do significado da crise. Eles olham sempre na direção errada. Se nada for destruído, a negatividade vai continuar. Ainda assim é possível que, depois de um certo grau de despertar da consciência, essa pessoa não permita que a negatividade se instale profundamente. Assim, impede-se que a negatividade comece seu ciclo de autoperpetuação. Ela é confrontada no início. É possível evitar a crise olhando-se para a verdade interior assim que os primeiros indícios de distúrbios e negatividade se manifestarem na superfície. Mas é preciso uma dose enorme de honestidade para questionar as convicções a que a pessoa se agarra com mais fervor. Tal atitude elimina a autoperpetuação negativa, a força motriz que reforça a substância psíquica destrutiva e equivocada até chegar a um ponto de ruptura. Isso evita os muitos círculos viciosos dentro da psique humana ou entre seres humanos envolvidos em relacionamentos dolorosos e problemáticos.
Se as dificuldades, os tumultos e as dores na vida de cada um e na vida da humanidade como um todo fossem encarados sob esse ponto de vista, o significado verdadeiro da crise seria realmente compreendido e muita dor poderia ser evitada. Eu lhes digo: não esperem a crise se manifestar como uma erupção, como um fenômeno da natureza, instaurador do equilíbrio, que sobrevém tão inexoravelmente quanto a tempestade que ocorre quando é preciso alterar determinadas condições atmosféricas e limpar a atmosfera. Acontece exatamente o mesmo com a consciência humana. Na realidade, é possível haver crescimento sem longas e dolorosas “noites escuras”, se a honestidade consigo mesmo se tornar o fator predominante da personalidade. O verdadeiro olhar para dentro e a profunda preocupação com o ser interior, o abandono de atitudes e idéias fixas, é uma postura a cultivar, em vez de obstruir. Assim, pode-se evitar a crise caracterizada por dor e ruptura, porque não se forma uma inflamação que precisa supurar.
A morte, em si, é uma dessas crises. Já falei sobre vários significados profundos da morte. Este é mais um deles. A morte superficial –e ela não passa disso—poderia ser evitada se não se permitisse que a crise se tornasse uma ferida prestes a supurar, mas sim se dissolvesse voluntariamente com o grau de consciência existente. A morte superficial do corpo humano ocorre porque a consciência diz “não posso mais suportar”, ou “cheguei ao fim das minhas forças”. Qualquer crise contém esse pensamento e essa atitude. A consciência sempre diz para si mesma: “não posso mais lidar com essa situação” –seja uma situação específica, quando ocorre uma crise específica na vida, ou a presente encarnação, quando ocorre a morte física. No último caso, a erupção ocorre como o espírito que se separa do corpo, até encontrar novas circunstâncias de vida nas quais lidará outra vez com as mesmas distorções internas. Como a erupção, o colapso e a crise visam sempre desativar velhos modos de funcionamento, o processo de morte e renascimento também tem esse significado.
No entanto, os homens se opõem a mudar para novas maneiras de operar e reagir. Esta obstrução é muito desnecessária. Na verdade, é essa obstrução que cria a tensão da crise, e não o fato de abandonar velhas estruturas. Quando a pessoa não aceita de bom grado as mudanças necessárias, automaticamente ela entra em crise. A intensidade da crise indica a intensidade da oposição, assim como a urgência da necessidade da mudança. Quanto maior a necessidade de mudanças, e quanto maior a obstrução a essas mudanças, mais dolorosa será a crise. Quanto maiores forem a abertura e a disposição de mudar, em qualquer nível, e quanto menos necessária for a mudança em um determinado momento do caminho evolucionário de um indivíduo, menos grave e dolorosa será a crise.
A gravidade e a dor de uma crise não são de maneira alguma determinadas pelo fato objetivo. Acho que a maioria de vocês, meus amigos, pode comprovar prontamente essa afirmação. A maioria de vocês já passou por grandes mudanças exteriores. Vocês perderam alguém que amavam, vocês podem ter sofrido as mais drásticas mudanças e vivido fatos objetivamente traumáticos—guerras, revoluções, perda de fortuna e do lar, doença, etc. Contudo, pode ser que, interiormente, tenha havido muito menos agitação e dor do que em situações que são externamente desproporcionais à agitação dos sentimentos interiores. Portanto, podemos dizer que uma crise exterior pode deixar vocês em estado de maior tranquilidade do que uma crise interior. O fato objetivamente mais traumático às vezes machuca menos que um menos traumático. No primeiro caso, a mudança necessária acontece no plano externo, e o eu interior a aceita mais facilmente, se ajusta melhor e encontra uma nova maneira de lidar com a vida com muito menor resistência. No segundo caso, a necessidade de mudança interior encontra maior resistência. A interpretação pessoal e subjetiva de um fato torna a crise desproporcionadamente dolorosa. Às vezes as pessoas tentam encontrar explicações racionais para este fato aparentemente estranho – estas explicações podem ser chamadas racionalizações. Às vezes as mudanças e crises internas e externas são encaradas com as mesmas atitudes internas.
Quando o processo da crise é aceito e não mais obstruído, quando alguém segue o fluxo ao invés de lutar com ele, o alívio vem com relativa rapidez. Depois que a ferida supura e ocorre um ajuste novo e flexível das atitudes, a autodescoberta traz paz, e a compreensão traz nova energia e animação. O processo de cura está em andamento, mesmo enquanto a ferida supura. Negar esse processo, dizer a si mesmo : “Isso não está certo, eu não deveria ter de passar por isso. Eu tenho que passar por isso? Se os outros não tivessem errado nisso e naquilo, eu não estaria agora nesta situação” é uma atitude que só prolonga a agonia. É uma forma de tentar evitar a necessária supuração da ferida, formada por um emaranhado doloroso de energia negativa que não pára de crescer e cujo impulso dificulta mais e mais a mudança de rumo. A desesperança é o resultado do ciclo permanente de energia negativa e de sua repetição fútil e automática, que a consciência é incapaz de interromper, ou melhor, que só pode interromper quando deixar de evitar a mudança necessária.
Quantas vezes já frisei que toda experiência negativa, toda dor é o resultado de uma idéia errada! Quantas vezes vocês, meus amigos, que trabalham neste caminho, concordaram comigo quando se aprofundaram o suficiente e olharam para aqueles níveis misteriosos nos quais vocês abrigam convicções secretas que não têm coragem de questionar ou expressar conscientemente. Um dos aspectos desse trabalho é exatamente a articulação dessas idéias. E ainda assim, é muito comum todos vocês deixarem de fazer o reconhecimento necessário ao não prestarem atenção a esses fatos quando se deparam com uma situação infeliz.
Depois que a pessoa adota o hábito de, antes de mais nada, questionar suas falsas suposições ocultas e reações destrutivas quando lhe acontece alguma coisa indesejada, e passa a se abrir totalmente para a verdade e para a mudança, sua vida sofre uma modificação muito acentuada. A dor se torna proporcionalmente menos freqüente, e a alegria cada vez mais é seu estado natural. As crises se tornam supérfluas. Portanto, no fim das contas, a morte se torna supérflua. Essa pode parecer uma afirmação radical, especialmente para aqueles de vocês que ainda estão aterrorizados com o mistério da morte (e portanto da vida), mas mesmo assim é verdade. O ritmo do crescimento pode, então, prosseguir com suavidade, sem os trancos e barrancos da quebra de estruturas negativas na essência da alma.
Nós discutimos os aspectos negativos da autoperpetuação. É claro, ela existe principalmente no lado positivo. Vamos analisar isso agora: vamos supor que uma pessoa esteja amando. Quanto mais ela ama, quanto maior sua capacidade de amar e gerar autênticos sentimentos de amor, mais ela se torna capaz de gerar mais desses sentimentos sem se empobrecer e sem empobrecer os outros. Ou seja, ao dar ela não tira nada de ninguém. Pelo contrário, quanto mais dá, mais recebe. Ela vai descobrir novos caminhos, caminhos mais profundos, mais variações da vivência do amor, dando e recebendo, em sintonia com esse sentimento universal. A capacidade de vivenciar e exprimir esse amor cresce continuamente em um movimento interior autoperpetuador.
A mesma coisa se aplica a todos os outros sentimentos e atitudes construtivos. Quanto mais significativa, construtiva, completa e alegre for a vida de alguém, mais ela gera esses atributos. É um processo permanente, interminável, de constante aumento, expansão e auto-expressão, que se multiplica dentro de si mesmo. O princípio é exatamente o mesmo da autoperpetuação negativa. A única diferença é que no processo positivo realmente não há limites, não há ponto de ruptura. Ele é infinito.
Uma vez que vocês passem a ter ciência de sua sabedoria, beleza e alegria inerentes, e permitam que esses atributos se desenvolvam , eles, por assim dizer, vão aumentar e se multiplicar sozinhos. Quando essas energias são liberadas e admitidas pela consciência, o movimento contínuo e automático de autoperpetuação assume a dianteira. A princípio é preciso se esforçar para colocar esse poder em funcionamento, mas depois que está em marcha o processo se transforma num movimento interior contínuo que não exige esforço. Quanto mais qualidades universais você gerar, mais dessas qualidades poderão ser geradas.
O potencial de vocês, meus queridos amigos, é realmente infinito no tocante à possibilidade de vivenciar beleza, alegria, prazer, amor, sabedoria e expressões criativas do eu mais interior. Novamente as palavras foram ditas, escutadas e registradas. Mas com que profundidade vocês sabem que isso é uma realidade? Com que profundidade vocês acreditam no seu potencial interno de criar a própria vida, de ter contentamento, de viver a vida infinita? Até que pondo vocês acreditam na própria capacidade de solucionar todos os seus problemas? Até que ponto confiam nas possibilidades que ainda não se manifestaram? Até que ponto acreditam que a personalidade de vocês tem novas facetas a serem descobertas? Até que pondo acreditam de fato que podem desenvolver atributos de paz, combinado com ânimo; serenidade, combinada com aventura, e que esses atributos fazem a vida se tornar uma sucessão de belezas – apesar das dificuldades iniciais ainda a superar. Até que ponto vocês de fato acreditam em tudo isso, meus amigos? Façam a si mesmos essa pergunta. Na medida em que vocês só acreditam nisso da boca para fora, sem expressar de fato e ativamente essa crença, vão continuar aflitos, desanimados, deprimidos, temerosos ou ansiosos, enredados em conflitos aparentemente insolúveis, consigo e com os outros. Esse é o gabarito que revela até que ponto vocês acreditam de verdade que são uma potencialidade infinitamente em expansão. Se não acreditarem nisso de verdade, meus queridos, é porque existe alguma coisa em vocês à qual se apegam desesperadamente. Vocês não querem trazê-la à tona porque não querem abandoná-la nem mudar.
Isso se aplica a todos e a cada um dos presentes, e, naturalmente, a todas as outras pessoas do mundo. Pois quem não tem “noites escuras” a encarar? Algumas têm muitas “noites escuras”, que vão e vêm. Ou uma “noite escura” que é permanentemente cinzenta. Elas podem não passar por uma grande crise em momento algum, mas a vida é cinza, com relativamente poucas oscilações. E também há aqueles que já acharam a saída dessa zona cinza. Para eles, a relativa segurança oferecida por essa zona já não é suficiente. Eles querem mais e, no fundo, estão dispostos a arriscar um tumulto temporário, para poder atingir um estabilidade mais desejável. Eles querem concretizar seu potencial de alegrias e auto-expressão mais profundas. As “noites escuras”, então, ficam mais circunscritas: ou se restringem à experiência variável, em constante mutação, do tumulto e da liberação, da alegria e da luz, ou, em algumas vidas, podem vir reunidas em manifestações mais fortes. A saída da mais completa escuridão e perda, dor e confusão alterna-se com alturas de luz dourada, que traz em si a esperança justificada de um estado final de contentamento contínuo. Seja qual for o caso de vocês, seja qual for o estado em que estejam agora, há sempre uma mensagem a descobrir sobre a vida de cada um. Cabe a vocês não projetar as experiências no exterior, o que é sempre a mais perigosa e mais insidiosa tentação. Ou, aliás, introjetá-las de uma forma autodestruidora, o que significa errar o alvo tanto quanto projetá-las nos outros. Dizer “sou muito mau, não sou nada” é sempre uma atitude desonesta. É preciso trazer à tona essa desonestidade para que a crise tenha um sentido, seja ela grande ou pequena.
Se vocês acabarem aprendendo a considerar a menor sombra de sua vida cotidiana e investigar seu significado mais profundo, vocês saberão lidar com a pequena crise – um pequeno fato – de tal forma que a ferida não poderá inchar. Portanto, não será necessária uma supuração dolorosa para eliminar as estruturas apodrecidas. Isso irá revelar a vocês a pura realidade: a vida universal, no estado não adulterado, é a venturosa alegria de uma beleza cada vez maior. A menor sombra é uma crise, pois ela não precisa estar ali. Só está ali porque vocês deram as costas à questão que provocou a crise. Portanto, considerem as menores sombras da vida cotidiana e perguntem qual é o seu significado. O que vocês não querem ver, não querem mudar? Se encararem o fato e quiserem, de fato, encarar o problema verdadeiro e a mudança necessária, a crise terá cumprido seu papel. Vocês vão descobrir novos aspectos do problema que farão o sol nascer e a noite escura reverter ao que realmente é: o educador, o terapeuta, que a vida é sempre, se vocês quiserem entendê-la assim.
A capacidade de vocês de lidar com os aspectos negativos dos outros só aumenta na medida em que fizerem o que eu disse nesta palestra. Quantas vezes vocês percebem sentimentos negativos por parte dos outros, mas não conseguem lidar com eles porque estão ansiosos, inseguros e confusos quanto à natureza do seu envolvimento e da interação com os outros. Em outras ocasiões, talvez vocês nem percebam a existência, real, de hostilidade por parte dos outros. Eles são sutis e indiretos, e isso deixa vocês confusos, com sentimento de culpa pelas reações instintivas, mas ainda menos capazes de lidar com a situação. Essa situação comum é resultado unicamente da cegueira em relação e si mesmos e da resistência a mudar o que deve ser mudado. Como projetam toda a sua experiência negativa antiga nos outros, é impossível vocês perceberem adequadamente o que efetivamente se passa no outro, e assim não conseguem lidar com a situação. Muitos de vocês começaram a sofrer uma magnífica mudança na forma de conduzir a vida nesse aspecto, à medida que aumenta sua capacidade de enxergar francamente o que os perturba por dentro, e à medida que passam a ter disposição em mudar. Quase inadvertidamente, como se não tivesse relação nenhuma com o esforço de vocês, surge um novo dom: vocês vêem o aspecto negativo dos outros de uma forma que deixa vocês livres, que permite encarar os outros, que é eficaz. Não há efeito negativo sobre vocês. A longo prazo, isso também beneficiará o outro, quer ele queira, quer não.
Quando vocês resistem à mudança, o medo aumenta porque o ser mais íntimo sabe que a crise, a erupção, o colapso são inevitáveis e se aproximam inexoravelmente. No entanto, vocês resistem em fazer o que poderia evitar a crise. O que estou descrevendo aqui é a história da vida humana. Essa é a armadilha da natureza humana. Por isso é preciso repetir a lição, muitas e muitas vezes, até desnudar o erro do medo ilusório da mudança. Se a crise puder ser entendida como estou mostrando a vocês, e se vocês realmente meditarem a respeito para entender suas próprias crises e abrir mão daquilo a que se apegam, e para desafiar e questionar a perspectiva limitada que têm de um problema em particular, a vida se abrirá imediatamente, ou quase imediatamente.
Alguém quer fazer perguntas a esse respeito antes de eu continuar a palestra?

PERGUNTA: Estou envolvido com uma pessoa mais ou menos da forma como você descreveu. Não consigo lidar com a rebeldia raivosa dessa pessoa. Sei que eu também tenho essa característica, mas mesmo assim minha reação é negativa. Não me comunico, não me abro e não esqueço. Em vez disso, eu me reprimo. Será que você pode me ajudar e sugerir uma reação positiva?

RESPOSTA: Em primeiro lugar, recomendo essa afirmação: “Aqui estou, sentindo tensão e dor. A situação em que me encontro me dá ansiedade e eu gostaria que ela não existisse. O que ela significa para mim?” Abra-se de um jeito diferente. Não use o conhecimento que você já tem sobre si mesmo como resposta. Ele pode até estar correto, mas o reconhecimento prévio pode atuar como uma barreira sutil. Você precisa estar realmente disposto no fundo, bem no fundo, a esquecer. Enxergar e não atrapalhar.
Nesse momento chegamos a outro aspecto desta palestra, que também será uma resposta para você. Vocês precisam entender que não podem efetuar a mudança sozinhos. O ego não consegue esse feito. O eu disposto, consciente, sozinho, é incapaz disso. Naturalmente já falei disso antes, mas estou vendo que foi esquecido e não aplicado. A dificuldade de mudar, a resistência, baseiam-se em grande parte no fato de que o homem se esquece de que não pode mudar sem ajuda divina. Assim, ele passa de um extremo errado para o outro. Um extremo é que o homem acha que é ele quem deve realizar a transformação interior. Como ele sabe, lá no fundo, que não pode fazer isso, que simplesmente não tem condições de fazê-lo, ele desiste. Acha que é impotente para mudar, e portanto nem tenta de verdade, e também não expressa o desejo, enunciado de forma concisa, de mudar. Ele está certo em acreditar que a capacidade de mudar está ausente quando pensa em si mesmos apenas como o ego desejoso, consciente. A resistência é em parte uma expressão da vontade de evitar a frustração de querer alguma coisa que não pode ser feita e que será, fatalmente, uma decepção. Esse extremo ocorre no plano mais íntimo da psique humana. O mesmo acontece com o extremo oposto, quando o homem professa a crença que poderes superiores, ou Deus, devem fazer tudo por ele. Aqui também o eu consciente não tenta. A falsa esperança e a falsa resignação não passam dos dois lados da mesma moeda, a moeda da passividade absoluta. Mas o ego ambicioso, que tenta ultrapassar sua própria capacidade, inevitavelmente acaba no mesmo estado passivo, de espera falsa ou de resignação falsa. A ambição esgota o ego e deixa-o passivo. Essas atitudes podem existir ao mesmo tempo ou alternadamente.

O modo de ensejar uma resposta positiva é querer; vocês precisam querer ser autênticos e mudar. E vocês literalmente precisam orar para que o divino interior, que opera dentro da alma, torne a mudança possível. Depois, esperem que a mudança ocorra, de forma confiante, crente e paciente. Essa é a condição prévia indispensável da mudança. Quando uma pessoa nem mesmo pensa em adotar essa atitude de oração – “quero mudar, mas meu ego é incapaz disso. Deus agirá por meu intermédio. Vou fazer de mim um canal desejoso e receptivo para que isso aconteça” – ela, essencialmente, não está disposta a mudar e/ou tem dúvida sobre a realidade das forças superiores dentro de si.
Essa espera paciente e confiante, essa certeza, essa fé que a mudança virá quando vocês estiverem totalmente dispostos a ver a verdade, isso pode ser adquirido. Não é uma atitude infantil de querer que uma autoridade faça o trabalho em seu lugar. Muito ao contrário. Essa abordagem concilia as atitudes da responsabilidade adulta, que age no sentido de encarar a responsabilidade, de querer a verdade e a mudança, de expor a vergonha oculta, e a atitude receptiva, quando o ego conhece suas limitações, como eu disse na última palestra. Nessa atitude receptiva, vocês deixam Deus entrar na alma, vindo lá do seu próprio íntimo. Vocês se abrem para que isso aconteça. Quando essa atitude é adotada a mudança se torna uma realidade viva para qualquer um. Quando não há confiança é a fé em que isso possa acontecer, que o Divino possa se manifestar por intermédio de vocês, é porque vocês não se deram a oportunidade de vivenciar a pura realidade desses processos. Vocês negaram a si mesmos essa experiência. E como nunca passaram por ela, como confiar? Além disso, como existe em vocês uma ou outra portinha que vocês querem manter secreta, para ainda não precisaram entrar na vida de modo pleno e comprometido, vocês não podem sentir a maravilha da realidade do Espírito Universal dentro de vocês. Como não são honestos com a vida, não podem acreditar de fato no poder da Inteligência Universal que habita em vocês em todas as ocasiões, que começa a trabalhar no momento em que vocês abrem espaço para ela. É preciso haver uma entrega total, sem reservas. Essa entrega, sem reservas, é condição essencial para descobrir essa realidade em seu íntimo. Mesmo que vocês não saibam qual será o resultado imediato, ou como vai acontecer, ou quais serão as implicações, ou se vai funcionar deste ou daquele modo, ou se a vontade de Deus será do seu agrado, é preciso fazer essa entrega. Não saber a totalidade da resposta, agora, faz parte do processo. Todas essas considerações evitam a entrega e mantêm vocês apegados ao velho modo, distorcido, trapaceiro, de lidar com a vida, embora ao mesmo tempo queiram alcançar um modo de vida novo, liberado, livre, no qual vocês estão inteiros, e não divididos internamente e atormentados pela dor dessa divisão. Ou é de um jeito, ou do outro. A entrega ao Criador Último precisa ser total, aplicada ao aspecto aparentemente mais insignificante da vida diária, do ser. Vocês precisam estar totalmente comprometidos com a verdade, e nesse caso também estarão comprometidos com o Espírito Universal. Se houver esse compromisso, vocês abandonarão o velho porto e flutuarão por algum tempo no que é aparentemente a terra de ninguém; não se importem com isso. Vocês se sentirão mais seguros do que jamais antes, quando se mantinham no velho porto, com a falsa estrutura que precisa ser destruída. Em breve saberão que não há nada a temer. É preciso reunir coragem, pois vocês vão descobrir que esta é, de fato, a maneira mais segura e firme de viver, de ser, de se expandir, de vibrar com a vida e para a vida. Na realidade, não é preciso coragem alguma. Então, e somente então, as “noites escuras” se transformarão em instrumentos de luz.

PERGUNTA: Essa palestra fala muito da minha situação atual. Estou começando a descobrir o significado da crise. Acho que de duas uma: ou encontro um abrigo em algum lugar ou atravesso a tempestade, e acho que é isso que estou fazendo agora.
RESPOSTA: Esse reconhecimento é muito bom. Ele remete à antiquíssima pergunta, à antiquíssima alternativa: abrigar-se ou fazer a travessia. Talvez seja a mais importante questão, sempre repetida, do caminho evolutivo de cada entidade. O homem continua no ciclo de morte e renascimento, de dor e luta, de conflito e esforço – fisica e também espiritual e psicologicamente – exatamente porque alimenta a ilusão de que pode-se evitar a travessia e que abrigar-se fará algum bem. Na verdade, abrigar-se não faz bem nenhum, só aumenta a ferida. O alívio momentâneo é uma ilusão do tipo mais grave. É grave porque a crise inevitável, que vem depois, já não está ligada a sua fonte, sua razão interior, e isso machuca mais. No entanto, quando se toma a decisão – “não vou me abrigar, vou fazer a travessia”, a capacidade e os recursos da alma humana ficam disponíveis quase instantaneamente. Esses recursos estão ocultos e permanecem obscuros para a pessoa que tende a buscar abrigo. Ela, então, se sente fraca e não acredita em sua capacidade de manifestar os poderes infinitos do Espírito Universal. Ela não conhece sua potencialidade, a força que surgirá, a inspiração que terá. Somente quando a mente decide fazer a travessia, quando se pede ajuda na meditação, esses recursos se tornam disponíveis. Também desperta a confiança de que o ego consciente não está sozinho. Ele não é a única faculdade disponível para tratar do problema.

Quero ressaltar de novo que uma pessoa pode ter essa orientação em algumas áreas do seu ser e, em algumas manifestações problemáticas, continuar fechado e relutante. Sua forma de perceber a vida e a si mesmo depende dessa orientação.
É importante vocês quererem agir da melhor forma possível. Não é importante se vocês cometem “erros”, seja qual for seu significado. A luta em si é o que conta, é o que trará necessariamente a reconciliação. Não há palavras para descrever a bênção, a força, a crescente integridade da personalidade que daí surgem. O homem quer “soluções ideais”, e por isso sempre procura ganhar tempo no limiar da entrega total. Mas o que são soluções ideais? Elas não significam nada se não se basearem na crescente integridade de uma pessoa, que ocorre através do processo aqui descrito.
Abençôo vocês e peço que abram o seu eu mais recôndito, toda a alma, todas as forças psíquicas, para deixar para trás a trava que recusa a verdade e a mudança, e portanto a auto-expressão e a luz. Abram-se dessa forma, para deixar que o poder abençoado, sempre presente em vocês, sature todo o ser. Esse poder é fortemente ativado nesses encontros, quando vocês se reúnem aqui, quando vocês recebem ajuda e se abrem para mais e mais canais de ajuda. Surge uma bênção que se une ao poder interior do qual falei, e assim vocês ficam duplamente fortalecidos. Continuem o processo de crescimento da forma que expus aqui. Cada um de vocês, nesse último ano em que tive o privilégio de ajudar, fez um grande esforço, cresceu e se desenvolveu, talvez mais do que vocês saibam.
Deixem o processo continuar, dentro do espírito preconizado nesta palestra, para que a integridade de vocês, a sua ligação com o universo aumentem e proporcionem mais daquela alegria a que vocês têm direito inato. Sejam abençoados, fiquem em paz.