domingo, 9 de março de 2014

SARITA

Minha Saritinha partiu. Preparamos um lugarzinho lindo, no Jardim, para ela descansar. Plantamos, junto com ela, uma palmeira, para lembrar a nobreza de seu porte e a retidão de sua lealdade sem exigências. Nos 14 anos em que fez parte da familia, ela nos ensinou muito sobre amor e intuição.
Em momentos difíceis deitava sobre meu peito e se ajeitava, ronronando cuidados, como a procurar o lugar certo onde o coração doía. Quando a entregamos à Terra, caía uma chuvinha mansa, que se misturou às minhas lágrimas.
Ah! Sarita! Bem que você podia vir deitar no meu coração agora... (08/03/2014)

terça-feira, 4 de março de 2014

E NÓS ?


A mudança não passa por uma pessoa, por um governante ou parlamentar, considerado individualmente. Não vai adiantar muito matar o Dirceu ou o Donadon, condenar à fogueira o FHC ou o Sarney, atacar a Dilma com palavrões, agredir o Lula com insultos, nem condenar os bandidos da rua à pena de morte. Eles são "verrugas" que revelam um câncer social que apenas vem à tona, revela-se. Até que ponto cada um de nós nutre esse câncer?
O processo tem raízes e metástases mais profundas. Está em jogo um movimento gradual de transição para uma nova consciência. Antes das instituições estão os indivíduos que precisam, minimamente, conhecer e reconhecer, além dos seus direitos, o seu lugar, individual e social - o seu papel na vida.
As manifestações de massa apontam para o desejo de mudança. E isto é bom. Os governos e os parlamentos não se mantêm legitimamente se o povo não é escutado. Mas isto é apenas um ângulo de um conjunto muito mais complexo. E depois? Depois do grito virá a ação? A nossa ação. Como essa ação se tornará concreta e positiva? Qual é a nossa parte nisso, além de empunhar bandeiras e postar frases de efeito e ódio no Facebook? Talvez precisemos nos fazer algumas perguntinhas, bem mais silenciosas, sobre qual tem sido a nossa postura diante da vida comum de todo dia. Como está a minha passeata particular com os meus diversos “eus”? Perguntinhas singelas como: compareço às reuniões do meu condomínio, ou me omito e, comodamente, falo mal do síndico? Suborno o guarda de trânsito na esquina? Faço piadinhas com gays e negros? Atiro lixo pela janela do carro? Compareço à escola do meu filho, ou só citico falo mal dos professores? Ensino ao meu filho a devolver o troco que recebeu a mais? Ofereço condições dignas à trabalhadora que faz minha comida e lava o meu banheiro? Voto num candidato só porque ele é meu conhecido?
Nem precisamos responder. Perguntar apenas, já pode fazer um bom efeito. Quem sabe descubro que, no meu mundo interno mais quebro vidraças, incendeio ônibus e promovo a confusão e o medo, do que faço algo construtivo.

Ray do Vale
ray-vale.blogspot.com