quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ONDE FOI QUE EU ERREI?


De tempo em tempos circulam na rede, mensagens e vídeos mostrando crianças inteligentes e expressivas reclamando mais presença dos pais em suas vidas. São alvo de perguntas diretivas, induzindo respostas que levam os pequeninos às lágrimas, tendo que escolher entre um presente de Papai Noel e a presença dos pais por mais tempo, em casa.
É verdade que pais ausentes fazem falta; e ninguém duvida de que criança requer figuras de proteção por perto. É certo que essas mídias bem produzidas e editadas contém algo de educativo e sugerem alertas. Entretanto, para pais e mães já encharcados de culpa, elas são um soco no estômago. E trazem nas entrelinhas bem traçadas um componente subliminar de crueldade, para arrancar lágrimas dos malvados vilões. Quem produz essas peças, certamente pouco sabe sobre a dor de muitas mães que choram, altas horas, diante de caminhas e berços dorminhocos, amargando a dor de terem passado o dia longe de casa, lutando pelo pão de todo dia. Essas mensagens bonitas, coloridas de boas intenções, enfiam o dedo na ferida de gente comun, pais bons, atrapalhados, às vezes, mas amorosos, sim. Pais e mães que correm, voam às vezes, pressionados pelo dever profissional e que se dividem, ansiosos e ruminando gastrites, entre a reunião de trabalho e a festinha na escola; entre as exigências e metas do empregador e o desejo de ajudar no dever de casa.
É verdade que às vezes alguns passam da conta e vão além do razoável, na competitividade de uma época de cifrões e títulos acadêmicos. Mas a maioria busca apenas a sobrevivência digna. E são esses que perdem o sono por não serem pais bons.
Quem são esses pais que geraram filhos emaranhados em fios, redes, iclouds e downloads? São gente que luta, acerta e se confunde. Não são maus, nem maltratam crianças. São apenas diferentes dos pais antigos. Elas já não vivem entre panelas e bordados. Mas, como suas mães e avós, são corajosas mulheres, que bordam o tecido da sobrevivência a peso de luta, fazendo alquimias com o tempo escasso para adoçar a vida de seus filhos que muitas vezes criam sozinhas. Eles, os pais, estão longe de ser apenas os provedores, cujo maior dever era encher a despensa. São homens que trocam fraldas e empurram carrinhos pelas praças e shoppings da vida , sem vergonha de ser “femininos”. Os tempos mudam, as sociedades e os homens mudam. O que não muda é a necessidade de amor e de calor. Haveremos de encontrar caminhos atuais para necessidades que são de todas as épocas e de todas as humanidades.
Abençoados sejam os pais e mães da nossa época, cheios de perguntas, com poucas certezas e muito aperto no peito. Querem amar e amor. Hoje, como antes, são pais e mães possíveis. Os melhores que podem ser!