sábado, 17 de dezembro de 2011

MENINOS ADULTOS, ADULTOS CRIANÇAS

MENINOS ADULTOS, ADULTOS MENINOS
Há uma demanda crescente de jovens que são levados por seus pais aos consultórios de psicólogos e médicos. Esses meninos e meninas estão acuados pelo stress, sentem medo e amargam um pesado sentimento de inadequação, fobias, pressões emocionais e patologias diversas, causadoras de grande sofrimento, físico e psicológico.
São quase crianças, tendo que assumir posturas de adultos e pensar como gente grande. Aos 14, 16, 17 anos já precisam saber se querem ser médicos, juízes, astronautas, desembargadores, reis ou presidentes de multinacionais; precisam decidir se o melhor é estudar mecatrônica (o que será isto?), passar na seleção para o ITA, ou ser apresentador do Jornal Nacional.
E há aqueles que são marcados pelos cursinhos para se tornarem os SUPER , os que vão compor a “TURMA ESPECIAL” - onde só sentam os melhores, os que seguramente vão aparecer no jornal e no outdoor, quando sair o resultado do Vestibular. Esses renderão dividendos à indústria melhor cursinho da cidade.
Cineminha, Futebol, tarde de domingo no shopping, casa de amigo, ou até mesmo dar uma namoradinha, nem pensar! Os que ousam transgredir sucumbem acossados pela culpa e pelo medo dos concorrentes "que a esta hora estão estudando". Eles perderam o direito de viver a mais bonita fase de suas vidas. Já estão vivendo o futuro, compromissados com a profissão que nem sabem se desejam, sem experienciar o presente, do qual tiveram que abrir mão. Já pensam onde vão fazer o Mestrado, o Doutorado, o pós e o pós do pós... Se moram no interior vão para a capital, se estão na capital, vão para outra capital maior, se estão na capital maior, vão para o exterior.
Em tempos nem tão distantes, os adultos perguntavam às crianças: “o que você quer ser quando crescer?”. Hoje não há tempo para crescer. Nem para perguntar.
Esses meninos e meninas vivenciam um paradoxo: eles receberam muito- e tudo de seus pais, viveram todas as facilidades, nunca precisaram lavar o copo no qual beberam água e pouco aprenderam sobre o significado do “se virar”; de uma hora para outra começam ser cobrados e exigidos pela família e pelo meio onde vivem, reféns da cultura do “você tem que vencer, tem que ser o melhor”. Como conciliar duas experiências tão contraditórias sem se perder?
E eles se perdem. Perdem-se em meio a tantas exigências para as quais não foram preparados. E adoecem , e deprimem. Estavam acostumados à calorosa proteção das fraldas. Não haviam aprendido que a vitória requer luta e que às vezes faz bem lavar a própria calcinha/cueca ou arrumar a cama onde se dorme. São fruto de uma geração de pais que os ensinou que eles tem muitos direitos, mas pouco ensinou sobre a outra face da vida - compartilhar deveres.
Ser o melhor, ou ser vencedor também inclui ser linda/ magra, lindo/musculoso, o primeiro/a no vestibular (de medicina, preferencialmente!); aparecer no outdoor do Cursinho com de cabeça raspada, melecada de ovo, tingida de muitas cores e sabores; passar no ITA, ser da turma especial do colégio/cursinho.
Dá até pra perceber duas categorias: os lindos, perfeitos e sarados, que dificilmente vem aos consultórios. Estão encantados com o espelho e pouco percebem além de suas barrigas/ tanquinho e do sonzão de seus carros top de linha! Os pais também.
Mas os do Vestibular, estes estão suando frio, vomitando silêncios, amargando gastrites, síndrome de pânico, sentimento de culpa (meus pais não me cobram, mas sei que o maior sonho deles é que eu passe!). Estão tristes, além de tudo, com a autoestima em decadência porque ficaram mais redondinhos e pesados. Perderam o direito de definir os músculos na Academia.
Os pais também estão com gastrite erosiva, corrosiva, implosiva (existe?) e também vomitam: às vezes bílis, medos, inseguranças sobre seu papel de bons pais; mas também vomitam, sem querer, impropérios, alguns explícitos, outros amorosos e velados. Sofrem tanto quanto seus filhos, porque querem ser pais perfeitos de filhos igualmente perfeitos. E, como eles, sentem medo e culpa. E ainda precisam fingir que, se o filho não passar, será a coisa mais natural do mundo! Os filhos sabem que não é assim!
Este é um fenômeno da nossa época. Não estamos desqualificando a necessidade do estudo, o compromisso com uma carreira, a responsabilidade diante da vida e de suas demandas. Uma boa formação moral, espiritual e intelecutual é o que de melhor podemos legar aos nossos filhos. Também não desejamos enveredar pelo caminho do julgamento maniqueísta de que o que ocorre hoje é bom ou mau, aceitável ou condenável. São os tempos novos, com suas dores e com seus dons.
Mas podemos encontrar caminhos de ajuda que nos preparem para uma relação melhor com nossos filhos, formando cidadãos mais "equipados" para essas travessias; podemos oferecer a eles recursos para o enfrentamento saudável desses tempos novos que nos encantam mas que também nos assustam. Eles tem direito a construir uma consciência mais clara a respeito de seus próprios desejos e sonhos – REAIS!
(Texto de Ray do Vale)

Um comentário:

  1. Oi Ray, tudo bem? Que bom encontrar você através de um blog. Vou voltar para ler com calma seus textos.
    Feliz Natal minha querida.
    Bjs,
    Lila

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