quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O DOMINGOS E O SANTO

Nunca antes vi tanta comoção pela morte de uma pessoa famosa, como no caso do ator Domingos Montagner. É verdade que choramos a morte de Domingos, um ator talentoso, belo, carismático; é real também que paira a natural solidariedade humana dirigida á família e com o próprio ator que se foi no auge da fama. Mas o que mais doeu foi a morte do Santo. Ele enfeitava o nosso imaginário. Era o filho amoroso que toda mãe quer afagar, o irmão acolhedor que sonhamos ter, o amante esparramado e intenso que acorda a paixão das mulheres e que os homens querem e não sabem ser. Foi duro, sobretudo, ver morrer o idealista honesto, íntegro e comprometido, defensor do povo contra os políticos - coronéis e canibais; sangrou na alma ver afogar-se o sonho, a fantasia nos redemoinhos traiçoeiros que engolem sem mandar aviso. Sumiu nas águas o faz-de conta poético que embalou a nossa consciência criança, confiante e esperançosa e que se queda perplexa e muda diante das águas que prometem beleza e poesia mas que matam, afundam, e devolvem sem vida.

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